Mercados têm dia positivo com fiscal na mira
Por Augusto Decker, Gabriel Roca, Matheus Prado e Victor Rezende — De São Paulo
A expectativa de que haja uma desidratação no impacto fiscal da PEC da Transição deu
alívio ao mercado doméstico e possibilitou, portanto, uma apreciação do real e da bolsa na
sessão de ontem, enquanto os juros recuaram. Os ativos locais foram impulsionados,
adicionalmente, por um pano de fundo menos negativo vindo da China, conforme o
governo dá sinais de que pode avançar no processo de reversão da política de covid zero.
O dólar fechou negociado a R$ 5,2880 no mercado à vista, em queda de 1,43%, enquanto
o euro cedeu 1,55%, para R$ 5,4610. O Ibovespa subiu 1,96%, aos 110.909 pontos, após
tocar os 112.187 pontos nas máximas. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI)
para janeiro de 2024 recuou de 14,28% do ajuste anterior para 13,95%, e a do DI para
janeiro de 2027 caiu de 13,36% para 12,855%.
A PEC da Transição foi protocolada na segunda-feira no Senado mantendo a retirada de
R$ 175 bilhões do teto por quatro anos, mais investimentos de até R$ 23 bilhões. No
entanto, notícias de que os próprios membros do governo admitem um valor bastante
inferior de recursos fora do teto de gastos, de aproximadamente R$ 100 bilhões, com
vigência de dois anos, contribuíram para uma forte retirada de prêmios dos ativos locais.
Para além do noticiário fiscal, Lula afirmou a integrantes do MDB que deve ser diplomado
no dia 12 de dezembro e que só a partir daí anunciará os ministros do seu futuro governo.
Nessa linha, rumores de que o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, poderia assumir o
Ministério da Fazenda, também contribuíram.
“Depois de uma grande liquidação – parcialmente explicada por um movimento técnico, a
explosão do VaR [‘value at risk’] -, os mercados estão se estabilizando. Eu diria que um
descumprimento fiscal de cerca de R$ 125 bilhões a R$ 150 bilhões por até dois anos está
bem precificado nos ativos, assim como os nomes considerados para comandar a
economia no próximo ano”, diz o diretor da tesouraria de um grande banco local. Ele
avalia que o governo eleito ainda tem condições “sólidas” para virar o jogo, mas ressalta
que o primeiro semestre de 2023 deve ser “mais difícil que o esperado” devido ao impacto
do aperto relevante da política monetária e da confiança, que está em queda.
No mercado internacional, o minério de ferro subiu 2,3% em Dalian, para cerca de US$
107,50, refletindo uma possibilidade de relaxamento da política de covid zero no país.
Autoridades chinesas afirmaram que “restrições de longo prazo devem ser corrigidas e
evitadas”. Além disso, a Comissão Nacional de Saúde da China disse que aumentaria a
vacinação contra a covid para idosos.
Assim, Vale ON ganhou 3,86%, CSN ON subiu 8,47%, Usiminas PNA, 6,04%, e Gerdau
PN teve alta de 5,98%. “A visibilidade em relação à China é sempre muito baixa, de difícil
leitura até para quem é especializado. Mas os lockdowns vão acabar eventualmente e o
reaquecimento da economia chinesa pode ser um gatilho de médio prazo”, diz Sérgio
Goldman, gestor da Esh Capital, acrescentando que as ações da Vale, principal papel para
capturar o movimento no Brasil, segue em um patamar atrativo.